Na última década do
século XX assistiu-se ao desenvolvimento da sociedade da informação com uma intensidade
nunca antes experimentada. As tecnologias de informação e das comunicações invadiram
praticamente todas as áreas de actividade, muitas vezes sem que os cidadãos se
apercebessem da extensão da sua penetração nos aspectos mais comuns da vida em
sociedade. A convergência das tecnologias de informação, do audiovisual e das
comunicações abre perspectivas com importante impacto positivo na transmissão do saber,
na divulgação da cultura e da língua, nos processos de aprendizagem, na eficiência da
administração pública, na integração de cidadãos com necessidades especiais, na
gestão das organizações, nos meios de entretenimento, na comunicação social, na
interacção entre grupos de cidadãos e na inovação de processos democráticos.
Em paralelo, desenvolvem-se novas actividades económicas na prestação de serviços
na rede, nas comunicações, no comércio electrónico, no desenvolvimento de conteúdos,
no entretenimento, no multimédia, no software, no audiovisual e em múltiplas outras
actividades que se integram na chamada economia digital. Este conjunto de transformações
tem consequências económicas, sociais e políticas que ultrapassam em rapidez e
intensidade aqueles que ocorreram durante o século XIX, com a revolução industrial. É
nessa acepção que se refere que estamos perante a revolução da sociedade da
informação.
Na entrada do século XXI não há nenhum indício que aponte para a diminuição da
intensidade das transformações em curso. Pelo contrário, são visíveis sinais de que
este contexto de mudança se acentua, dando origem a uma economia de base digital e a
profundas transformações na organização da sociedade e da maneira de viver individual
e colectiva.
A Internet está no centro das transformações que conduzem à economia digital. Não
se poderia falar da revolução da sociedade da informação sem a ocorrência deste
fenómeno que permitiu ligar redes e computadores à escala global, possibilitando o
acesso a conteúdos e serviços mediante um simples toque desse extraordinário
periférico que é o rato.
A riqueza e variedade dessa informação que não pára de crescer, acentuando em cada
dia que passa o seu ritmo de expansão, terá de conduzir-nos forçosamente a um mundo
novo em que o entretenimento, a aprendizagem, o diálogo entre cidadãos, o exercício da
democracia, a cultura, a investigação científica, o trabalho, o comércio e as
restantes actividades económicas recorrem com intensidade crescente à Internet, como
meio privilegiado de acesso e difusão de saber e de oportunidades de interacção humana
e empresarial.
As velocidades actuais de transferência de informação representam uma ínfima parte
daquilo que tecnologicamente já é possível em laboratório. Esse hiato auspicia-nos uma
torrente de desenvolvimentos e de novos serviços que irão alterar radicalmente a vida do
cidadão comum.
Este livro é uma demonstração dos primeiros passos, ainda tímidos mas
simultaneamente essenciais, daquilo que será a revolução provocada pela Internet no
futuro próximo.
Os portugueses têm demonstrado uma enorme apetência pela inovação tecnológica. As
taxas de penetração de diversos equipamentos e serviços, nomeadamente nas caixas
bancárias automáticas, nos terminais de pagamento electrónico e nos telefones móveis,
entre outros, tem crescido a valores muito superiores àqueles que correspondem ao
desenvolvimento económico do país.
Esta abertura à inovação, que provavelmente terá raízes históricas no longo
período em que Portugal desempenhou um papel de primeiro plano nas expedições
marítimas, à descoberta de novas rotas, culturas, religiões, flora e fauna e outras
formas de organização dos povos, é um património cultural que não deveremos perder o
ensejo de explorar.
O pleno aproveitamento da revolução da sociedade da informação, que se encontra em
curso, em que a Internet desempenha um papel central, poderá ser a alavanca para vencer o
atraso de desenvolvimento que nos separa dos nossos principais parceiros, no espaço
económico, geográfico e geo-estratégico em que nos inserimos.
O carácter periférico de Portugal contribui para que os benefícios da eliminação
das barreiras de distância e tempo, facultada pelas redes digitais de comunicação,
sejam acrescidos em relação aos nossos principais competidores.
Tirar proveito do contexto favorável proporcionado pela sociedade da informação para
produzir o milagre do desenvolvimento português, nos primeiros anos do século XXI, é o
desafio para o futuro que colectivamente teremos de ser capazes de vencer.
Este livro sobre o futuro da Internet é um precioso contributo.
J. Dias Coelho
Presidente da Missão para a Sociedade da Informação
Lisboa, 23 de Fevereiro de 1999